Setembro Amarelo e a urgência de falar sobre a vida o ano todo

Setembro é conhecido pela campanha Setembro Amarelo, dedicada à prevenção do suicídio e à valorização da vida. É um tempo de mobilização importante, que nos convida a refletir sobre o cuidado com a saúde mental. No entanto, quando falamos de preservação da vida, precisamos reconhecer que esse compromisso não pode se restringir a apenas um mês do ano. Ele deve estar presente em nossas atitudes, políticas públicas e relações cotidianas.
O suicídio é hoje uma das principais causas de morte no mundo, afetando especialmente adolescentes e jovens. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 700 mil pessoas morram todos os anos por essa causa, sendo que muitas dessas mortes poderiam ser prevenidas com acesso a cuidado, acolhimento e escuta. Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde divulgado pelo Ministério da Saúde em setembro de 2022, entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil. Cada vida perdida é uma história interrompida, uma família em luto, uma comunidade impactada.
Falar sobre suicídio não significa incentivar, mas sim romper o silêncio que, muitas vezes, isola quem sofre. Abrir espaço para o diálogo é oferecer a chance de que alguém busque apoio antes que a dor se torne insuportável.
No Proame Cedeca, temos a clareza de que valorizar a vida é também garantir direitos. Por isso, nossas ações não se restringem a datas específicas: realizamos vivências com grupos de adolescentes nas escolas, criando espaços de diálogo, escuta e fortalecimento de vínculos. Nessas rodas de conversa, falamos sobre sentimentos, relações, direitos e projetos de vida. São encontros que ajudam adolescentes e jovens a perceberem que não estão sozinhos, que podem compartilhar suas angústias e buscar apoio.
Esse trabalho preventivo é fundamental. Muitas vezes, é no espaço escolar que sinais de sofrimento aparecem pela primeira vez. Ter um grupo onde o adolescente é ouvido, respeitado e valorizado pode ser a diferença entre sentir-se isolado ou encontrar caminhos de esperança.
Mas esse cuidado não pode depender apenas da iniciativa de algumas instituições. É preciso que a sociedade como um todo se comprometa. Famílias, escolas, serviços de saúde, gestores públicos e comunidade devem estar unidos para fortalecer uma rede de proteção que acolha e ofereça suporte.
O Setembro Amarelo é um marco que chama a atenção, mas a preservação da vida precisa ser pauta diária. Cuidar da vida é sempre urgente. Que possamos cultivar empatia, solidariedade e cuidado todos os dias do ano, porque cada vida importa.
Por: Micheli Duarte
Diretora – Proame Cedeca